segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Região sul da capital concentra cruzamentos mais perigosos

Antônio More / Gazeta do Povo / Comendador Franco com Henrique Mehl: imprudência e movimento intenso


Uma rua e duas avenidas da re­­gião sul de Curitiba concentram 25% dos casos de acidentes em cruzamentos entre 2007 e 2010. Levantamento da Gazeta do Povo elaborado com base nos anuários do Departamento de Trânsito do Paraná (Detran-PR) e do Ba­­ta­­lhão de Polícia de Trânsito (BPTran) mostra que a Rua Tijucas do Sul, no Sítio Cercado, e as Ave­nidas Mare­chal Floriano Peixoto e Comen­dador Franco são as mais perigosas para motoristas, pedestres e ciclistas.
A Marechal Floriano foi a líder disparada em acidentes nos cruzamentos, com 218 casos em 12 pontos diferentes. Mas a situação mais problemática está localizada no bairro Sítio Cercado. Sozinho, o encontro das ruas Tijucas do Sul e Ourizona registrou 48 acidentes no período estudado.
O trecho é um dos poucos no levantamento que não tem semáforos instalados, apenas sinalização vertical. Para motoristas e mo­­ra­­dores da região, o alto fluxo de veículos que se aglomeram na Ou­­rizona para atravessar a outra via, sem que haja uma mediação por se­­máforo ou agente de trânsito, contribui para que os choques en­­tre automóveis sejam inevitáveis.
A falta de segurança no local e os acidentes registrados ao longo dos anos fizeram com que a prefeitura tomasse uma medida drástica: o cruzamento deixará de existir. Assim como no encontro com a Rua Ourizonas, outros seis pontos da Tijucas do Sul passam por obras, com o fechamento de interseções e a criação de retornos ao longo da via principal.
A eficácia da medida implantada pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) se limita à região. Nos outros cruzamentos campeões em acidentes entre 2007 e 2010, como na Marechal Floriano com as ruas Doutor Bley Zornig e Desem­bar­gador Antônio de Paula e na interseção da Comendador Franco (Avenida das Torres) com as Ruas Augusto Zibarth e Henrique Mehl, já há semáforos instalados, assim como ampla sinalização vertical e horizontal.
Para o engenheiro civil e professor titular do Departamento de Transportes da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Eduardo Ratton, falta ousadia do poder público para implantar obras que trariam soluções definitivas para os acidentes, como viadutos e passagens em desnível nos cruzamentos. “Poucos investimentos foram feitos no sistema viário de Curitiba ao longo dos anos. Vez por outra um binário é criado, mas a capacidade de tráfego das vias é praticamente a mesma de 20 anos atrás”, afirma.
Já a diretora de Engenharia de Tráfego da Secretaria Municipal de Trânsito (Setran), Guacira Civolani, defende que a maior parte dos acidentes em cruzamentos ainda é resultado da imprudência dos motoristas. Para ela, mesmo a instalação de semáforos deve ser visto como uma última opção. “A população cobra muito do órgão de trânsito, e tem esse direito, mas se esquece de cobrar do seu vizinho, do motorista. A maioria dos acidentes em cruzamentos ocorre em locais com semáforos e devidamente sinalizados”, diz Guacira.
Testemunhas oculares relatam riscos nas ruas
Morador do Sítio Cercado, o vendedor Vágner Marcos Freitas passa diariamente de carro pelo cruzamento das ruas Tijucas do Sul e Ourizona. Segundo ele, mesmo cedo, às 6 horas, as longas filas e o trânsito lento no local já testam a paciência dos motoristas. “De manhã, levo 20 minutos pra passar por esse cruzamento. E, à tarde, simplesmente não consigo andar por aqui”, conta. Freitas diz que nunca sofreu um acidente no local, mas não pode dizer o mesmo de outras pessoas. “Toda semana tem acidente. Tenho amigos meus e parentes que já bateram o carro ali”, relata.
O que pode parecer exagero ganha eco na fala do aposentado José Carlos Miranda, que tem uma visão privilegiada do cruzamento. Ele mora há 15 anos nessa esquina e as lembranças de acidentes no local são nítidas – tanto pela gravidade das colisões e atropelamentos quanto pela frequência. Assim como o vendedor e tantos outros moradores da região, mesmo com as obras da prefeitura no local, Miranda engrossa o coro pelo tão desejado semáforo. O pedido, já é certo, não vai ser atendido.
Apressadinhos
A quase seis quilômetros dali, o comerciante Paulo Sérgio Sanches não sofre desse problema. É só sair da eletrônica do qual é dono para ver, logo em frente, o semáforo controlando o trânsito no cruzamento da Avenida Marechal Floriano Peixoto com a Rua Doutor Bley Zornig. O encontro entre as duas vias, que aparece no levantamento da Gazeta do Povo como o segundo mais problemático da capital, tem ampla sinalização vertical e horizontal, além da já citada sinaleira. O que não é suficiente para evitar acidentes, como mostram as estatísticas e o relato do comerciante, acostumado com o som das freadas bruscas e de buzinas.

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